Os protestos contra reformas econômicas do governo de Javier Milei na Argentina estão se tornando o cenário de uma violência generalizada, com jornalistas sendo alvos das forças armadas do país, alertou a organização Repórteres Sem Fronteiras. 

Repórteres têm sido alvo de balas de borracha, gás lacrimogêneo, detenções arbitrárias e confisco de equipamentos durante os atos pacíficos em Buenos Aires e em outras cidades do país nas últimas semanas.

Diante da escalada, RSF condenou os ataques e faz um apelo urgente ao governo Milei para interromper essa escalada violenta antes que cause danos irreversíveis à democracia argentina.

Repressão a jornalistas em protestos pacíficos preocupa RSF

“Agentes da segurança pública, que deveriam estar protegendo a imprensa durante manifestações pacíficas, estão obstruindo deliberadamente a cobertura jornalística por meio da violência”, denuncia a entidade. 

O caso mais grave aconteceu em março, quando o fotojornalista freelancer Pablo Grillo, membro da Associação de Repórteres Gráficos da República Argentina (aRGra), ficou gravemente ferido enquanto documentava outro protesto e permanece hospitalizado em estado crítico.

Protesto contra violência sofrida por fotojornalista na Argentina
Manifestação contra agressão ao fotógrafo na Argentina (foto: El Rssaltador)

Mas o caso não serviu para conter a violência. 

Pelo menos dez casos de violência física, detenções arbitrárias e ameaças foram registrados em maio, durante protestos em Buenos Aires. Jornalistas foram atingidos por gás lacrimogêneo e balas de borracha, e alguns tiveram equipamentos destruídos.

  • Em 28 de maio, durante um protesto pacífico de aposentados em frente ao Congresso Nacional, Antonio Becerra, fotógrafo do Tiempo Argentino, foi ferido por gás lacrimogêneo disparado pelas forças de segurança federais.
  • O mesmo ocorreu uma semana antes, quando as forças de segurança agrediram violentamente membros da imprensa que cobriam o protesto. Naquela ocasião, a RSF monitorou ataques a pelo menos nove jornalistas, três dos quais foram detidos arbitrariamente e libertados horas depois.
  • Durante uma manifestação em  21 de maio, as forças militares, a Polícia Federal e a Polícia de Segurança do Aeroporto atacaram violentamente jornalistas que cobriram os eventos.
  • Uma fotógrafa freelancer do jornal Clarín, Mariana Nadelcu, foi ferida e seu equipamento de trabalho foi danificado após ela ser empurrada para o chão por policiais.
  • O fotógrafo Tomás Cuesta, que colabora com o jornal nacional La Nación e a agência internacional francesa AFP, foi espancado pela polícia e preso, sendo libertado após várias horas.
  • O jornalista Pablo Corso, do canal de notícias La Nación+, foi ferido por uma bala de borracha, e Diego Pérez Mendoza, um cinegrafista do mesmo meio de comunicação, foi atingido diretamente no rosto por gás lacrimogêneo.
  • O mesmo aconteceu com a repórter Ayelén Berdinas e o cinegrafista Cristian Mourazos, ambos do canal de notícias IP Noticias. O jornalista Lula Álvarez, da mídia digital El Destape, e Nicolás Munafó, do canal C5N, foram agredidos por membros das forças de segurança.

 

Força desproporcional contra jornalistas na Argentina

“Ataques a jornalistas durante os protestos representam uma grave violação da liberdade de imprensa”, disse Artur Romeu, diretor da RSF para a América Latina.

“Essa política repressiva está transformando jornalistas em alvos diretos. É um sinal profundamente alarmante de retrocesso democrático na Argentina.

A RSF denuncia a escalada autoritária do governo de Javier Milei contra jornalistas e pede que a proteção dos profissionais da mídia seja garantida, para que eles possam desempenhar seu papel de informar o público de forma livre e segura'”

RSF vê ameaça institucional à imprensa na Argentina

Esses eventos confirmam um padrão de violência contra jornalistas desde que o presidente Javier Milei assumiu o cargo em dezembro de 2023, de acordo com a RSF. 

A Argentina ocupa a 87ª posição entre os 180 países listados no no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa 2025 da organização, tendo caído 47 lugares nos últimos dois anos.